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Governança em empresas familiares: entre o afeto e a blindagem societária

05/09/2025

Guilherme Chambarelli

A empresa familiar é, ao mesmo tempo, potência e vulnerabilidade. Potência porque carrega a identidade de seus fundadores, sua cultura e valores; vulnerabilidade porque o mesmo vínculo afetivo que fortalece pode, sem blindagem jurídica, corroer a continuidade do negócio.

No Brasil, onde mais de 80% das companhias têm origem familiar, a ausência de governança estruturada costuma ser a principal ameaça à perenidade. Não é o mercado que destrói essas empresas, mas as disputas internas, os litígios sucessórios e a fragilidade de mecanismos societários capazes de distinguir o que pertence à família e o que pertence à empresa.

A linha tênue entre afeto e patrimônio

O afeto, quando não traduzido em instrumentos jurídicos, torna-se risco. Decisões de investimento tomadas no calor das relações pessoais podem gerar assimetrias de poder e exclusão de sócios minoritários. O patrimônio, sem blindagem, torna-se palco de disputas emocionais que se refletem no balanço.

É nesse ponto que a governança se impõe. Conselho de administração com membros independentes, acordo de sócios com cláusulas de saída e mecanismos claros de sucessão não são luxos acadêmicos: são ferramentas de sobrevivência.

Instrumentos de blindagem societária

A prática tem demonstrado que as estruturas mais eficazes de governança em empresas familiares envolvem:

  • Holdings patrimoniais e operacionais para segregar ativos, organizar fluxos de caixa e proteger contra litígios pessoais.

  • Acordos de sócios com regras de compra e venda, direito de preferência, tag along e drag along, que evitam a judicialização de conflitos.

  • Protocolos familiares que conciliam regras de sucessão, critérios de ingresso de herdeiros e política de dividendos.

  • Governança de conselho, com a presença de conselheiros independentes, que equilibram técnica e neutralidade em decisões críticas.

Sem essas ferramentas, a sucessão se converte em improviso, e o improviso tem custo: perda de valor, conflitos internos e, em casos extremos, a dissolução da empresa.

O olhar do CEO

Para o CEO de uma empresa familiar, o dilema é claro: preservar o legado ou proteger a eficiência? A resposta correta não é binária. Governança é o ponto de encontro entre identidade e institucionalização. Não se trata de afastar o afeto, mas de traduzi-lo em contratos, protocolos e estruturas que resistam às contingências pessoais.

Conclusão

A experiência recente mostra que a governança societária deixou de ser diferencial competitivo e tornou-se exigência mínima para a atração de investidores, a preservação do patrimônio e a continuidade empresarial. Empresas familiares que ignorarem essa realidade se arriscam a repetir um roteiro já conhecido: crescimento inicial, consolidação e colapso na sucessão.

No Chambarelli Advogados, assessoramos famílias empresárias na implementação de estruturas de governança que unem blindagem societária e preservação de valores. Atuamos na construção de holdings, protocolos familiares e acordos de sócios, transformando vínculos afetivos em estruturas jurídicas sólidas. O objetivo é claro: assegurar que a empresa sobreviva ao fundador e prospere como instituição.

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