September 14, 2024
Guilherme Chambarelli

Mútuo Conversível, SAFE e CICC: Qual a melhor opção para investir em startups no Brasil?

O ecossistema de startups tem crescido rapidamente no Brasil, impulsionado por empreendedores inovadores e investidores em busca de grandes retornos. Entretanto, escolher o melhor instrumento jurídico para realizar investimentos nesse ambiente ainda gera dúvidas. As três opções mais comuns no Brasil atualmente são o Mútuo Conversível, o Simple Agreement for Future Equity (SAFE) e o Contrato de Investimento Conversível em Capital Social (CICC). Mas qual delas é a mais vantajosa para investidores e startups?

Neste artigo, vamos explicar as diferenças entre o Mútuo Conversível, o SAFE e o CICC, explorando suas características, vantagens e desvantagens para que você possa tomar decisões informadas ao investir em startups.

1. O que é o Mútuo Conversível?

O Mútuo Conversível é o instrumento mais tradicional utilizado para investimento em startups no Brasil. Trata-se de um contrato de empréstimo, no qual o investidor aporta recursos na startup com a possibilidade de conversão desse valor em participação societária no futuro, geralmente em uma rodada de investimento subsequente.

Vantagens do Mútuo Conversível:
  • Conversão flexível: O valor investido pode ser convertido em ações ou quotas de acordo com as condições previamente negociadas.
  • Prazo definido: O contrato normalmente estipula um prazo para a conversão ou o reembolso do investimento.
Desvantagens do Mútuo Conversível:
  • Dívida para a startup: Até a conversão, o Mútuo é tratado como uma dívida, o que pode impactar negativamente o balanço financeiro da startup.
  • Riscos jurídicos: A startup pode ser obrigada a devolver o dinheiro ao investidor caso a conversão não ocorra, criando incertezas.

2. O que é o SAFE?

O Simple Agreement for Future Equity (SAFE), desenvolvido pela Y Combinator, é amplamente utilizado em mercados como os Estados Unidos. Ele simplifica a captação de recursos, eliminando o caráter de dívida presente no Mútuo Conversível. O SAFE é uma promessa de que o investidor receberá ações da empresa em uma rodada de financiamento futura, mas não impõe obrigações de reembolso.

Vantagens do SAFE:
  • Sem dívida: O SAFE não cria uma obrigação de reembolso, o que é vantajoso para a startup.
  • Processo simples: O contrato é mais direto e fácil de ser executado em comparação ao Mútuo Conversível.
Desvantagens do SAFE:
  • Incerteza para o investidor: Como o SAFE não é considerado uma dívida, o investidor pode correr o risco de não receber retorno caso a startup não tenha uma nova rodada de investimento.
  • Dependência de eventos futuros: A conversão só ocorre quando há uma nova captação, o que pode levar mais tempo.

3. O que é o CICC?

O Contrato de Investimento Conversível em Capital Social (CICC) é uma inovação jurídica no Brasil, criada para atender às necessidades do ecossistema de startups, como uma evolução do Mútuo Conversível e inspirado no SAFE. O CICC foi proposto no PLP nº 252/2023 e visa eliminar os problemas jurídicos e tributários associados ao Mútuo Conversível. No CICC, o investimento é convertido diretamente em participação societária, sem ser tratado como dívida.

Vantagens do CICC:
  • Sem dívida: Assim como o SAFE, o CICC não cria uma dívida para a startup, facilitando a captação de recursos.
  • Flexibilidade: O CICC permite que as partes negociem livremente os termos de conversão, adaptando o contrato às necessidades do investidor e da startup.
  • Tratamento tributário favorável: O CICC garante que não haverá impactos tributários até que a conversão em capital social ocorra, o que gera maior segurança jurídica.
Desvantagens do CICC:
  • Regulação em desenvolvimento: Como o CICC ainda depende da aprovação do PLP nº 252/2023, pode haver incertezas quanto à sua implementação no curto prazo.

4. Comparação: Mútuo Conversível x SAFE x CICC

Característica Mútuo Conversível SAFE CICC
Natureza Dívida até conversão Não é dívida Não é dívida
Conversão Em evento de liquidez ou prazo Em nova rodada de financiamento Em condições definidas pelas partes
Riscos para startups Obriga reembolso se não convertido Sem reembolso Sem reembolso
Tratamento tributário Pode gerar complicações fiscais Simples, sem efeitos imediatos Sem efeitos tributários até conversão
Flexibilidade de negociação Moderada Alta Alta
Simplicidade Complexo devido à natureza de dívida Simples Simples e flexível

5. Qual modelo escolher?

A escolha entre Mútuo Conversível, SAFE e CICC depende de vários fatores, como o estágio da startup, o perfil do investidor e as condições do mercado. Para startups em estágios iniciais, que buscam minimizar os riscos financeiros e evitar dívidas, o SAFE e o CICC tendem a ser as melhores opções. O CICC, em particular, tem o potencial de se tornar a ferramenta mais atraente no Brasil, pois combina flexibilidade, segurança jurídica e tratamento tributário favorável.

Por outro lado, o Mútuo Conversível ainda pode ser uma alternativa viável, especialmente em situações onde a startup está disposta a negociar termos mais tradicionais ou quando o investidor busca segurança jurídica adicional antes da conversão.

Conclusão

O Mútuo Conversível, o SAFE e o CICC são ferramentas poderosas para investidores e startups no Brasil, mas cada um apresenta suas particularidades. O CICC, embora ainda dependa da aprovação legislativa, pode se consolidar como o modelo preferido por combinar as vantagens dos contratos tradicionais com as inovações necessárias para o mercado brasileiro de startups.

No Chambarelli Advogados, estamos prontos para assessorar investidores e empreendedores na escolha e negociação do melhor modelo de investimento. Com nosso conhecimento profundo sobre o Marco Legal das Startups e contratos de investimento, ajudamos nossos clientes a garantir segurança jurídica e sucesso em suas operações.

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